segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Porto do Velho: uma história que se transforma em vários apocalipses

O texto a seguir é da época em que este que os escreve estava como editor do site Rondonoticias. Escrito em outubro de 2007, o texto retrata algumas epopéias que a cidade de Porto Velho atravessou até nossos dias...

“Uns dizem, como lendo uma história de pergaminho dourado, que havia um velho e um porto perdido na imensidão do cosmos. A lenda conta como nasceu Porto Velho, as estórias falam de seus diversos apogeus. De suas agonias, de seus trejeitos.

Codificar Porto Velho é entender que é uma cidade cosmopolita. - Gente de todas as partes do Brasil, e do mundo resolveram vir morar aqui, no meio da Amazônia. E a cidade cresceu e seus vários renascimentos fizeram com que chegue aos 93 anos. Muitos passaram pelas epopéias dos tempos da borracha, do ciclo do estanho, da cassiterita, da época do garimpo, da febre do ouro, para chegar na atualidade.

Dez anos atrás a cidade quase parou...Idéias fantasmagóricas surgiram com o fim da corrida louca atrás do metal precioso (a febre do ouro). Muitos se foram para não mais voltaram, esqueceram dos presságios de quem bebe água do Rio Madeira jamais deixa o lugar. - Esqueceram da velha mandinga, e sumiram no oco do mundo. Os que ficaram, se tornaram dependentes, dizqué, do dinheiro mirrado do funcionalismo público, então. Era o fim da cidade da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Mas o povo lutou. Era teimoso e não queria entender o fim. Não aceitava a derrota. - Sem opção foi ficando. E nós mesclamos ainda mais. Gaúcho com nordestino, Paraibano com Catarinense, a massa étnica de porto-velho se forjou na diversidade e multiculturidade. Por isso se formos decodificar a metrópole à beira do Madeirão, pode apostar no vanguardismo da retórica, e apontar que é uma cidade das mais post-modernas que já se viu. Nada igual. Singular, única em todos seu esplendor.

A cidade que era nos idos dos 70 um mar de lama foi se transmutando. A antiga Avenida Jorge Teixeira, hoje federalizada, (antes John Kennedy, quando Teixeirão era vivo), era uma estrada lamacenta, e se via homens trabalhando para fazer ela se tornar o que ela é. O bairro São Cristóvão, antigo Cruzeiro, e ex-Olaria, era área rural onde havia isso mesmo, um monte de olarias.

O prédio do Mercadinho do Um era o ponto final da cidade. Na Avenida Calama nos idos dos 80, carros ficavam atolados, e era uma estrada vicinal. Era então o local de aventureiros. O glamour era diferente. O modo de vida tinha que se adaptar ao ambiente. Tinha Bancos, mas nem os atendentes precisavam, como hoje, usar gravata. Andar de bermuda era comum, paletó nem pensar.

A informalidade condizia com o tempo e o espaço. Hoje mudou-se isso. Somos índios, brancos, caboclos. Ribeirinhos, pescadores, citadinos, e continuamos a ficar abismados ao ver qualquer boto rosa na foz do nosso maior rio de lama que ficará em nossa memória. Ainda nós encantamos com a selva, com os trilhos de um passado tão abrumador, e tão longe de nossos olhos.

Porto Velho, a dos tempos atuais, sobreviveu ao seu próprio tempo. Deixou de ser fantasma. Quente, úmida. - Bravia, não é para poucos e contínua sendo dominada por forasteiros que se encantam com seu doce veneno. Que empalidecem diante da idéia de fugir para outro cantão.

Porto do Velho, apenas tem 93 anos de história. Um bebê diante do planeta. Uma cosmovisão de um mundo que está há espera de duas, três, quatro usinas para continuar na saga de seu idílico Illus Tempore”.

Quem sou eu

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Jornalista, formado em Comunicação Social e pós-graduado em Jornalismo e Mídia.Atual Editor do Site Rondonoticias. Escreve a Coluna Esportiva "Na Marca da Cal" no mesmo site e é membro fundador e ativista da Academia Rondoniense de Poetas - ACARP.