quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Verdades sobre a crise na Bolívia com guerra de Collas contra Cambas – Por Eduardo Rocco

A Crise na Bolívia não é somente grave, mas complexa. Cheia de matizes e contextos. Primeiro se deve esclarecer que é uma disputa secular entre Cambas e Collas, e que com a subida de Evo Morales ao Poder ficou escarnecida. Para quem não sabe os Cambas são os habitantes das regiões Orientais da Bolívia, mais precisamente, localizados nas estepes Del Beni, Pando e Santa Cruz de La Sierra, e que conviveram em paz com os Collas das regiões de La Paz, Oruro,Sucre e Cochabamba desde o surgimento da República. Porém essa paz acabou e o país fica na eminência de uma guerra civil que fragmentará a nação tida como Andina.

Mas essa situação de rivalidade racial fica até folclórica, quando se imagina que o teor dessa contenda é também a luta contra o centralismo. Diferente do Brasil, a Bolívia não é uma nação federativa, onde, por exemplo, os governadores de cada departamento gozam de autonomia econômica e administrativa. Os governadores que no país vizinho, são chamados de prefectos são eleitos indiretamente, por indicação presidencial.

Cada departamento da Bolívia fica à mercê da capital, La Paz, que exige de cada região a maioria dos Royalties das riquezas exploradas, ficando para estes somente as migalhas para investimentos em setores como Educação, infra-estrutura e etc. A guerra dos departamentos de Santa Cruz, pólo econômico da Bolívia, e acabar com essa situação, requerendo que os dividendos das riquezas produzidas naquela região sejam em beneficio exclusivo da população crucenã.

O convívio com esta modalidade de esfoliação veio se tornar insuportável, depois da Assumpção do governo do Movimiento Al Socialismo – MAS, partido que é regido pelo populista Evo Morales. Com o coca leiro na presidência, a crise emergiu. A tentativa de ele impor uma Nova Constituição que impôs diversas e duras medidas contra os interesses, principalmente, das regiões da Media Luna, (Santa Cruz, Beni, Pando, Cochabamba (estado de população colla), Sucre (também de população colla)) fez com que qualquer dialogo possa ser admitido.

Enquanto, o mundo se sensibilizou quando o primeiro indígena americano chegou a uma presidência, se esquece de que por trás dessa face existe outra que, internamente, é a causa da futura desintegração de um país. Não há volta para o Cambas, e os movimentos cívicos que querem a independência, e hoje a luta deles não é para derrubar Evo do Poder, mas para fugir de sua ingerência nefasta.

Para os Cambas o governo de Morales é ditatorial, e se fundamenta, nos preceitos do Todo Poderoso Hugo Chavez, que é reconhecido pela sua intromissão nos assuntos bolivianos. Essa postura que é muito criticada pela oposição, e pelo lado governamental, é tida como apoio irrestrito do venezuelano populista é um dos outros indícios de que qualquer conversa de pacificação será truncada.

Apoiado por Chavez, Evo não recua, insiste em não aceitar a autonomia governamental e econômica de cada departamento. Do lado, do presidente, a assessoria tenta induzir que a oposição de que quer derrubá-lo do Poder. Partidários do MAS reiteram de são vítimas de movimentos oposicionistas de oligarcas, mas esquecem que por trás desses movimentos representativos há toda uma nação camba, que não mais se identifica com o que hoje se chama de Bolívia. A cada hora que passa, cresce a chama da independência dos moradores da Media Luna.

As mortes em Pando, as ameaças de cerco a Santa Crus por milícias comandadas pelo presidente, são somente uma mostra da disposição desse sentimento de segmentação. Os cambas não se identificam com a Bolívia de Morales e Evo, que por sua, parte, não está nem aí para tentar resolver pela via pacifica, e seu discurso do que se pode descrever como do Novo Socialismo Moreno, fica preso a algo démodé e perigoso demais, e que o mundo não está enxergando no país ao borde da implosão.

Quem sou eu

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Jornalista, formado em Comunicação Social e pós-graduado em Jornalismo e Mídia.Atual Editor do Site Rondonoticias. Escreve a Coluna Esportiva "Na Marca da Cal" no mesmo site e é membro fundador e ativista da Academia Rondoniense de Poetas - ACARP.